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A COVID-19, a Doença do Filum e a “névoa cerebral”

Published by at 21 Dezembro, 2020


Nas atuais circunstâncias, marcadas pela pandemia da Covid-19, podem surgir muitas dúvidas a respeito. Uma delas, manifestada por pacientes e familiares, questiona se as pessoas com a Doença do Filum fazem parte do grupo de risco da COVID-19.

Nós, do Institut Chiari & Siringomielia & Escoliosis de Barcelona, queremos oferecer as informações mais relevantes e pertinentes que temos a respeito, com o objetivo de tentar responder e, talvez, solucionar as suas dúvidas.

A COVID-19 é uma nova doença, que se comporta de uma forma muito variável, sem que saibamos os fatores ou as circunstâncias que a tornam inócua ou mortal.

Os e as pesquisadores(as) e profissionais da medicina procuram conhecer tudo sobre a COVID-19, tanto no que se refere ao vírus SARS CoV2 como ao hóspede humano, o que torna a sua união tão mortífera para algumas pessoas.

Um dos primeiros artigos científicos que tratam com mais profundidade da gravidade da COVID-19 é o de Zsuzsanna Varga, de Zurique (Suíça), que foi publicado em The Lancet1 em 17 de abril de 2020. Neste artigo, se afirma a existência de uma inflamação da camada mais interna dos vasos sanguíneos -o endotélio- em diversos órgãos vitais, como o coração, o encéfalo e os rins. Atualmente, existem 1680 artigos que se referem à endotelite decorrente da COVID-19 e 822 artigos sobre a afetação cerebral devido à COVID-19.

FIG 1. Lesões isquêmicas difusas da substância branca profunda. A difusão por ressonância magnética (que se baseia na detecção do movimento de moléculas de água) em um paciente com a COVID-19 mostra numerosas lesões isquêmicas focais dentro da substância branca profunda hemisférica (A, flecha branca), o corpo caloso (A, flecha vermelha), os gânglios basais, os pedúnculos cerebelares médios e os hemisférios cerebelares (B, flechas brancas)2.

FIG 1. Lesões isquêmicas difusas da substância branca profunda. A difusão por ressonância magnética (que se baseia na detecção do movimento de moléculas de água) em um paciente com a COVID-19 mostra numerosas lesões isquêmicas focais dentro da substância branca profunda hemisférica (A, flecha branca), o corpo caloso (A, flecha vermelha), os gânglios basais, os pedúnculos cerebelares médios e os hemisférios cerebelares (B, flechas brancas)2.

Esta inflamação que aparece no endotélio do cérebro nos casos graves da COVID-19 (Fig.1) pode gerar, em muitos pacientes, a sensação de “névoa cerebral”, ou seja, um tipo de afetação neurológica que se observa tanto em casos graves como leves. Trata-se de uma das sequelas a longo prazo da COVID-19, que cada vez mais pessoas relatam que apresentaram ou que continuam apresentando, com consequências relevantes para a sua qualidade de vida.

A “névoa cerebral”, que inclui, entre outros sintomas, transtornos de memória e de concentração, dificuldades para falar e denominar objetos, confusão, tonturas e fadiga, pode se agravar em alguns(as) pacientes com outras lesões cerebrais, que a favorecem ou a predispõem, em forma de inflamação adicional ou de acidentes vasculares cerebrais.

A nossa equipe médica e de pesquisa descreveu uma nova patologia, a Doença do Filum, na qual se observou, entre outras, uma afetação difusa da circulação sanguínea cerebral, de predomínio em zonas da substância branca (Figura 2)3.

 

FIG 2. Lesões isquêmicas difusas da substância branca profunda. Esta ressonância magnética de um paciente com a Doença do Filum mostra numerosas lesões isquêmicas focais dentro da substância branca profunda hemisférica e os gânglios basais (flechas vermelhas), que desapareceram após a cirurgia.

FIG 2. Lesões isquêmicas difusas da substância branca profunda. Esta ressonância magnética de um paciente com a Doença do Filum mostra numerosas lesões isquêmicas focais dentro da substância branca profunda hemisférica e os gânglios basais (flechas vermelhas), que desapareceram após a cirurgia.

Podemos supor que a predisposição a outras lesões cerebrais decorrente da endotelite pode agravar ou aumentar as sequelas nos(nas) pacientes que padecem da COVID-19 e da Doença do Filum.

Sabemos que esta predisposição inflamatória cerebral da Doença do Filum desaparece com o tratamento cirúrgico proposto para a mesma. Por esta razão, pode ser recomendável fazer o seu pronto diagnóstico e o seu tratamento adequado.

Além disso, existe uma problemática: a Doença do Filum, por ser uma patologia descrita recentemente, de difícil diagnóstico e, ao que parece, de uma incidência muito extensa em nível mundial, provavelmente não será levada em consideração ao COVID-19 na maioria dos casos.

 

Bibliografia

 

  1. ZsuzsannaVarga , Andreas J Flammer , Peter Steiger , Martina Haberecker , Rea Andermatt , Annelies S Zinkernagel , Mandeep R Mehra , Reto A Schuepbach , Frank Ruschitzka , Holger Moch. Endothelial cell infection and endotheliitis in COVID-19. Case Reports. Lancet. 2020 May 2;395(10234):1417-1418.
  2. R Hanafi, P-A Roger, B Perin, G Kuchcinski, N Deleval, F Dallery, D Michel, L Hacein-Bey, J-P Pruvo, O Outteryck, J-M Constans. COVID-19 Neurologic Complication with CNS Vasculitis-Like Pattern. AJNR Am J Neuroradiol. 2020 Aug;41(8):1384-1387. doi: 10.3174/ajnr.A6651.
  3. The Filum disease and the Neuro-Cranio-vertebral syndrome: definition, clinical picture and imaging features. BMC Neurology 2020, May 15. 20:175. https://rdcu.be/b36Pi.


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